Eu tenho uma porta aqui dentro. Uma porta que é no meio do peito, mas bem maior que ele. Uma porta que só parece fechada, mas que se encontra aberta à espera de todas as chaves. Uma porta que faz entrar qualquer um porque se importa. Se importa em ser uma porta sem trancas, cadeados, uma porta sem porta. Uma porta que é um portal a tudo aquilo que na vida importa. Porque nada é lar, sentido, magia, se tal porta for um labirinto fechado, um corpo cerrado, uma avenida interrompida. Nesta porta, desaguam todas as ruas, todos os rostos, todos todos. Nesta porta não há páginas viradas. Apenas um livro que se escreve porque não para de se inscrever no mais profundo de nós. Temos todos uma porta como essa. Basta que a abramos para sentirmos novas portas se abrindo à entrada de nós.