O mundo te chama à porta. Ele te pede um cabelo arrumado, as unhas feitas, um corpo sarado, um apartamento decorado, um relógio acertado. Aí, você vai e lhe diz: espera, vai com calma, eu ainda nem acordei. Mas ele está lá, te apressando, te chamando, te incomodando. Sem saco pra toda aquela pressão você, pela primeira vez, inspira fundo e lhe diz: hoje, não! Ele te olha com uma cara de espanto: ‘Como assim? Hoje não?!’ E você continua, explode, porque chega um dia em que a gente tem que dizer: Basta! E você ainda explica: Olha, Mundo, nada contra você, nada contra suas roupas engomadas, seus sucessos projetados, seus cardápios gourmets, suas frases e fotos clichês. Nada contra suas novelas, seus medos, suas hipocrisias, sua fofocas, seus falsos segredos. Mas hoje eu não estou a fim. Sinto muito, desse jeito não dá mais pra mim. Não quero mais brincar de seguir seus passos, de dançar no seu ritmo, de rodar as rodas dos seus compassos. Você ficou raso pro meu pé. Entenda, a vida é assim. Um dia a gente se apaixona, se vê no seu rosto e acha que tudo aquilo que você nos disse era verdade. Sim, no passado, eu acreditei nas suas promessas de felicidade estampada nas marcas das minhas bolsas, nos nomes dos designers dos meus sapatos, nas agendas cheias de compromissos, naquele roteirinho que você me escreveu… Mas agora chegou. Chegou a hora de eu te dizer: foi bom, mas passou. Preciso do meu próprio espaço. Preciso desatar por mim mesma o seu nó e achar o meu laço. Cabisbaixo, o Mundo parte, lágrimas nos olhos, aquelas coisas de fim de relacionamento. Você fecha a porta. Passa a mão no seu cabelo desgrenhado, abraça seu pijaminha de flanela, pisca pro seu All Star jogado, olha pro seu apê todo bagunçado e, leve por dentro, solta aquele sorriso maravilhado. Vai até o espelho. Se olha no olho e se diz: oi, meu amor, que bom que você voltou!
Crédito da foto: Dan Gold