A pessoa chega, mal te ouve, e já se opõe. Começa a frase dizendo que não. Se perde na confusão, se contradiz, sim, talvez, não sei, me esqueci, me perdi, espera aí. E mais sem argumentos, começa a aumentar o tom. Proporcionalmente, vai perdendo a razão. Porque nenhuma razão se sustenta quando precisamos muito do pulmão. Grita, esperneia, aponta o dedo. Só ela sabe o que todos deveriam saber, só ela tem a solução pra sua vida, pra vida do mundo. Só ela conhece o que é melhor para você. E aí começa. Levanta, gesticula, o volume lá nas alturas. E você olha pra todo aquele show e se pergunta: ‘tá, que horas vão começar a soltar os fogos de artifício?’. Porque é a única coisa que está faltando naquele show pirotécnico. É, pra quem falta argumentos, o grito é a única saída, o punho é a palavra razoável, o dedo em riste é, na cabeça de quem se proclama um profeta dos acontecimentos, a arte do convencimento. Você continua sério, tenta ainda falar mais alguma coisa. Pra quê, a pessoa mal consegue se ouvir diante de tamanho ruído, esquece, tem gente que não aprendeu a escutar. Não dá. Pra esses, é insuportável pensar que neste mundo há alguém diferente. Então, deixa pra lá, né, gente?! De fininho, você sai do ar, muda o canal interno da cabeça e deixa aquela cena, aquela pessoa, se contentar com sua própria falta de noção. Deixa ela, enveredada nos seus gritos, achar que assim se gera alguma compreensão. E aí, pra não comprar aquela pessoa-irritação, você se faz de bobo, arruma um compromisso e uma forma de sair dali para um lugar em que você – e seus pontos de vista – possam respirar. E, claro, reza pra não tão cedo essa pessoa novamente querer vir contigo “conversar”. É, infelizmente, tem gente que nunca quer sequer tentar entender que a perspectiva dela não é a única visão para a paisagem desse vasto mundão…
Crédito da foto: Chris Barbalis.