‘A vida é fluida’, você diz, ‘vamos deixar correr’. E eu fico com aquela sensação de: ‘hein?!, mas o que é que nós temos, então?’ E você completa: ‘gata, não temos nada, a noite é uma outra forma de se dizer madrugada. Vamos parar com toda essa história de definição’. E eu vou concordando, tentando embarcar nessa onda, comprar esse lema. Ok, sigamos, por um tempo. E depois? ‘Depois nada’, você diz. ‘Depois é outro dia, e outro dia a gente vê isso, pensa no hoje, no agora, vem cá, deita aqui comigo, vamos ser nós pelo enquanto’. E eu cedo. E quando percebo, já estou novamente viajando no seu modo de ser, jogada no turbilhão do sem tempo, onde o azul e o amarelo são duas gotas perdidas em um mesmo momento. E depois de muito brincar, desse jogo que você adora jogar, eu acordo, de madrugada, cabeça cheia, toda suada: espera, o que é que eu estou fazendo? Você é água, eu sou… Espera, me perdi, o que eu sou, mesmo? Ah, sim, eu não sou você. Cara, onde é que eu estava com a cabeça?! Mas a gente sabe, se apaixonar é se deixar levar pelo instante da fogueira que vai nos queimar. E aí você chega, cheio das suas frases de efeito, cheio dos seus ditos suspeitos. Mas dessa vez não dá mais. Ok, você é liquidez, eu entendo. Ok, já tive suas sedes, já vivi suas fomes. Só que de agora em diante, pode ir fluir na direção de outro mar, porque esse rio aqui, meu amor, cansou de se deixar levar.
Crédito da foto: Allef Vinicius.