Atenção, eu sei que está na moda, está em voga. Mas lembre-se: tarja-preta não é pretinho básico.
Atenção, eu sei que está na moda, está em voga. Mas lembre-se: tarja-preta não é pretinho básico.
Atenção, eu sei que está na moda, está em voga. Mas lembre-se: tarja-preta não é pretinho básico.
Talvez três vezes não seja suficiente para esse refrão entrar na cabeça das pessoas. Talvez três vezes seja nada. Talvez eu devesse escrever um livro inteiro de quatrocentas páginas apenas repetindo este estribilho. Ou não. Vai saber. Às vezes dizer tanto é nada dizer. Vejam as mães, por exemplo: “não deixa a toalha no chão depois do banho; arrume o quarto; já fez o dever?; desliga esse celular…” e por aí vai. Se falar e refalar funcionasse, as mães não precisariam ser tão repetitivas. Tem algo a ver com o hábito. Habituar-se é perder a coisa. Tipo quando o ar condicionado está ligado e você, depois de um tempo, passa a não perceber mais aquele barulho de fundo…
E as farmácias nascendo como gatos de ruas a cada esquina. E ninguém percebe que isso é um sintoma de que estamos nos tornando doentes compulsivos. Precisamos de remédios. Remédios para cólicas, dor de cabeça, anemia, gases… Remédios para fazer a vida viver. Remédio para não ficarmos nunca tristes. Como se a tristeza fosse uma espécie de doença contagiosa com a qual não podemos nunca ter contato. Ai, Huxley… Ai, Admirável mundo novo, tá aí, o seu SOMA se tornou realidade…
Remédio para nos mantermos sempre alertas. Remédios para acordarmos. Remédios para dormirmos. Remédio, remédio, remédio. Será que ninguém percebe? Remediar-se está tão na moda que até aqueles que não estão doentes fingem estar só para se enturmar. No elevador, falar sobre o tempo pra quê? Existe agora um tema mais comum do que o tarja preta que você toma? Na mesa de bar, abrimos as carteiras. Todos juntos, brincando de quadrilha com drogas legalizadas, químicas pesadas que causam um tipo de dependência que faria inveja a qualquer heroína. Mas, para nós, tudo o que é artificial, tornou-se natural. Químicas e mais químicas de indústrias farmacêuticas que, se tivessem mesmo qualquer interesse na humanidade, já teriam usado seus investimentos para a cura de doenças que ainda hoje persistem como “incuráveis”. Mas a gente sabe que, no fundo, incurável é qualquer doença que gere lucros astronômicos. Esses, sim, parecem ser uma ambição doente destinada a nunca ter cura….
E todo mundo anda por aí. Com comprimidos nos bolsos, medicando crianças e adolescentes para que estes não tenham crises, para que estes possam se concentrar nos estudos, para que estes possam se enquadrar em um sistema que precisa de gente enquadrara para manter-se vivo. E hoje, são tantos os estímulos que, para funcionar, a cabeça da gente precisa de anistia. Anistia encapsulada para nos tranquilizar e nos anestesiar desta vida que se vive em um ritmo tão anti-natural, que só mesmo se entupindo de coisas artificiais pra gente dar conta…
E ontem, na tv, um comercial de um remédio contra resfriado. A chamada era algo do tipo: “Porque a gente sabe que tem que dar conta de muita coisa e não pode cair”. Genteeeeee. Plmdds. Será que ninguém está ouvindo isso? Como assim? Não pode cair? Como assim, um emprego, uma empresa não pode entender que você é um ser humano e que, com um corpo humano, às vezes, precisa cair para poder se recuperar? Mas não. Você toma um remédio, mascara todos os sintomas da doença, mesmo que seu corpo ainda esteja agonizando por debaixo dessa máscara, mesmo que seu corpo esteja te gritando por dentro: cama! Eu preciso de descanso! De uma sopinha quente! De dois dias para te fazer ficar bem novamente! Mas, espera?! Dois dias?! O que são dois dias? Dois dias são motivo de desemprego. Ainda mais agora na crise. Dois dias são aquilo que te farão ser demitido. E demitido por quê? Por ser humano e ter um corpo de carne e osso que às vezes padece e adoece. Neste mundo, me parece, adoecer tornou-se um crime. Ora, seu idiota, você é um homem ou uma máquina? E ai de você se disser um homem. Vai direto assinar sua justa causa…