É ali. Adiante. Seus pés podem sentir. Está ali. Na sua frente. A queda. O medo. O segredo. Os joelhos tremem. Os olhos esfregam as mãos. Espera. Não. As mãos esfregam os olhos. Agonia. Angústia. Medo? Não pode ser. Sim. É. Medo. Medo. Joelhos? Os tenho ainda? As pernas viraram gelatina? O salto. À frente. Mas o pulo. Não sei. Será? Sou doido assim pra me jogar? A ansiedade. Que nem quando éramos crianças e vinha a injeção: não, mãe, por favor, moça, pai, Deus, nãoooooo! Pronto. Já deu? Já. Doeu? Só um pouquinho. Então por que o escândalo? Ai, não sei, mamãezinha, tava com medo. Medo. Seus pés. Diante do salto. Você está novamente lá em cima. Sozinho. Estamos sempre sozinhos diante dos saltos. Não sei. Um passo a mais. Pescoço esticado. Mal consigo ver lá embaixo. Há a água. Há a piscina. E há todo espaço entre nós. Eu aqui em cima. Ela lá embaixo. É a queda? O que é que me traz esse medo? Que segredo é esse? Esse do medo? Meus pés parecem ler suas palavras. As palavras do silêncio profundo, íntimo. Gritando por dentro. Desiste. Vai. Desiste. Não dê nem mais um passo à frente. Volte. Anda, logo. Volte. Você não é capaz. Você não dá conta. Vai, desiste, logo. Desce por onde subiu. E você sua frio. Mãos pingando. Pescoço duro, duro, tão duro. A cabeça quase enterrada nos ombros. Querendo se encobrir. Não posso. Vou desistir. Acho que sim. Não dá pra mim. Um pé pra trás. Outro. Mais outro. Chega à escada. Olha pro caminho. Seria tão fácil. Tão simples. Respira fundo. Olha pra queda. Já não pensa mais no salto. Abaixa um pouco, se preparando pra descer pela escada. Respira fundo outra vez. Num movimento. Rápido. Corre pela plataforma…
… Braços, corpo, pernas. Tira a cabeça da água. Olha pra cima. Olha pra água. Começa a gargalhar. Compulsivamente. E vai. Nadando lentamente. Até a borda da piscina. Sim. Hoje você o venceu!