Era uma vez um príncipe de um planeta distante chamado “Terra”. A primeira palavra que o príncipe pronunciou na vida foi “Amor”. E assim ele cresceu, se preparando para este nobre sentimento. Os pais do príncipe, atentos àquela vocação, decidiram chamar o grande sábio para preparar seu filho à árdua tarefa de amar.
O tal cara, que já havia preparado muitos outros casais, chegou à casa do príncipe com uma lista de casais que preparou para o amor. O currículo do sábio era mesmo impressionante. Ao longo de seus muito mais de seiscentos anos de vida, o sábio já havia aconselhado Dante e Beatriz, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, A Bela e a Fera, Dirceu e Marília, Capitu e Bentinho, Cleópatra e Marco Antônio, Anita e Garibaldi, Rosinha e o Chico Bento, Carrie e Big além de muitos outros. É claro que nem todos esses casais deram certo. Afinal, segundo as palavras do mestre sábio, o problema no aprendizado está sempre com o aluno, nunca com o professor. E, mudando logo de assunto, o sábio, sábio que era, tratou de começar os preparativos do príncipe que nasceu para amar. Logo nas primeiras 500 lições, o jovem descobrira que o amor não era para qualquer um. No entanto, o fato d’ele ter vocação pro negócio, facilitou bastante seu aprendizado. O príncipe foi treinado para atirar com todos os tipos de armas, aprendeu a matar dragões de olhos vendados, a escalar montanhas de gelo, a atravessar rios infestados de piranhas, a nadar com tubarões, a andar descalço sobre brasa, a matar jacarés com as mãos, a pilotar caças, a lidar com nazistas e religiosos radicais, a burlar o imposto de renda, enfim, o príncipe estava mais do que pronto para enfrentar todos os obstáculos cabulosos que a árdua tarefa de amar lhe exigiria. Foi então que, ao entrar no Youtube, a atenção do príncipe se voltou para um vídeo, recorde de acessos. Era a história de uma princesa jovem, com enormes seios fartos de silicone, que estava presa numa torre implorando para ser resgatada. O príncipe, seduzido pela possibilidade daquele amor desafiador, preparado pelo sábio que estava, viu sua definitiva oportunidade de colocar em prática toda a sua preparação. Fez sua mochila, afiou sua faca, preparou sua Bersa modelo PT Thunder 380 niquelada, fez a barba, passou desodorante italiano, montou na sua Hayabusa e lá se foi atrás do amor. Segundo seu GPS de última geração, o príncipe seguia pelo caminho certo. Mas, ao contrário do que havia imaginado, não viu dragões, escorpiões, leões, desfiladeiros, espinhos… Nem trânsito o príncipe pegou. Nem sequer uma estrada esburacada. Nada. O caminho era limpo e o asfalto até a torre da princesa era o mais liso que o príncipe já havia visto em toda sua vida. Ao descer da moto, o príncipe olhou pra cima. Lá estava ela. Linda. Maravilhosa. O príncipe tirou sua mochila das costas, deixou seu Okley na moto e foi até a porta da torre esperando ter de arrombá-la. Que nada. A porta nem trancada estava. Dentro da torre, havia uma escada em espiral e, logo ao lado desta, um elevador em perfeito funcionamento. O príncipe pressionou o botão, o elevador se abriu. Entrou, apertou o último andar. Ao ouvir o elevador chegando, a princesa, saiu correndo em direção àquele homem que seria a cura para todas as suas infelicidades. Mas… Cadê? Onde estaria o príncipe desaparecido? Pela janela da torre, a única esperança que a princesa ainda tinha de ser amada, já que nunca passou pela sua cabeça amar a si mesma, partia com o barulho aceleradíssimo daquela Hayabusa prateada.
E pra quem não entendeu nada… Eis a versão desnecessária da narradora deste conto de fadas contemporâneo.
Na verdade, o que aconteceu foi que, estranhando toda aquela facilidade de amar, toda aquela paz, toda aquela falta de concorrência e todo aquele conto de fadas, o príncipe acabou achando aquela história complicada demais. Segundo dizem por aí (não posso afirmar a veracidade desse fato), o príncipe achou mais simples se casar com uma bruxa, afinal, aprendeu com o grande sábio que amar era uma tarefa muito, muito árdua. E foi assim que o príncipe e a bruxa viveram o amor que todos no seu reino pareciam buscar… “Infelizes para sempre…”