No status dela diz: “num relacionamento sério”. Mas na vida, cadê? Onde está essa relação que está sempre atrasada? Essa relação que só recebe e nunca doa nada? Essa relação que nunca liga ou, quando liga, é para pedir aquele favorzin. Essa relação que é de uma via, a via que vai daqui pra lá, numa só direção, como se nunca tivesse volta, retorno, uma dobradinha de esquina por parte da outra pessoa. E assim ela segue. Com seu status nas redes sociais vivendo uma relação virtual de uma pessoa só a dois. Uma relação virtual de um par no qual apenas uma parte está presente na lista de chamada. E ela diz às amigas que está tudo bem, que ele está pasando por uma fase, aliás, uma fase que sempre foi essa mesma fase e pelo visto sempre será. Uma fase que ela aceita porque não quer aceitar que desde o início vive uma história de amor solitária, em que apenas uma das metades está disposta a colocar seu tempo, seu investimento. É, em quantas histórias de amor você já foi só? Poderíamos perguntar para ela. Pelo visto, sua resposta seria de que essa não é a primeira vez, daí a naturalidade da sua aceitação. Porque, ao contrário do ditado, ela prefere estar mal acompanhada do que só. E por isso recebe todas as desculpas, as mais ridículas, feito as crianças acreditando no coelho da páscoa ou os homens acreditando nas bundas sem celulite das revistas masculinas photoshopadas. Para ela é melhor crer que ele é o cara, que tudo pode mudar, do que abrir os olhos e acordar desse sonho real. Desse sonho que ela própria se permitiu viver para poder se esquecer da realidade. Essa realidade que está gritando com todas as letras, com todos os pulmões: EU NÃO EXISTO! É, o status existe porque criá-lo é fácil. Difícil mesmo é sustentar um relacionamento a dois em que o amor se faz apenas a um.
*Crédito da Foto: Sasha Freemind.