De todas as minhas crenças você é a mais sólida. Até quando me xinga, me ama. E faz das suas unhas as sementes que me assentam no seu terreno com raízes que me crescem pra fora da terra. Raízes que me crescem buscando a sua luz pra respirar uma órbita impregnada de seu magnetismo.
É, a única chuva que me traz vida é a sua. Chuva de meteoros incandescentes que cortam meus galhos e meu espaço como giletes cortam pulsos…
E, às suas estrelas cadentes, ponho a matilha de mim a uivar pedidos que te roubem um pouco de atenção, que me reguem as roseiras e os espinhos no derreter de sua calda de cometa.
Sou lobisomem adestrado, mas respondo como um cão vira-lata ao seu estalar de dedos estrelar. E se tenho pelos no corpo é que são lodos seus, que me vestem a pele pra que eu possa sentir suas águas se lavando em minhas pedras cobertas de rio…
E, quando achar que deve, peça que minhas vestimentas se joguem ao chão dos seus pés como suicidas de pontes: É doce matar-me do seu jeito! Tem sabor de beijo na boca.
E não ligo se você precisar se esconder atrás de seus óculos de grau. Sei que faz isso menos pra enxergar do que pra se defender e, além do mais, essas lentes lhe reconhecem um quê da inteligência que você camufla com seu silêncio político… que, a mim, fala soltando frases esperando que eu lhe diga: “tá aí, essa vai virar letra!”. E viram. Do avesso. No cair da noite que me enternece no seu asfalto de palavras duras que, aliás, são os únicos tratores capazes de me derrubar as muralhas para que possamos nos amar como dois inimigos que se amam mais forte por cima de opostas convicções.
Eu viro a casaca por você. E reviro os olhos e até os poemas, que você faz dançar no deslizar do seu corpo… É tão bom poder derramar meu óleo em seu encanto e te lambuzar com vontade de me decompor em seus lugares sensoriais, como folhas secas que se sepultam fertilizando o solo… São tantos os nutrientes a nos umidificarem que nossa maior tentação é produzirmos frutos tão suculentos que nos façam adictos ao nosso próprio néctar… Correndo o risco de nos deliciarmos em nós como aqueles que se deitam e se deleitam com toda a polpa do amor.