Penso no ato de cumprimentar as pessoas com um aperto de mão. E penso que dar a mão a alguém é o gesto do gesto… A origem deste cumprimento é incerta. Acredita-se que tenha surgido para demonstrar que ambas as partes estavam desarmadas, portanto, propícias à troca, à amizade. Dar a mão a alguém em cumprimento é dar aquilo que temos no corpo e que usamos para dar as coisas que queremos dar. Assim, dar a mão é dar, não uma coisa, mas entregar ao outro o próprio gesto de dar, é abrir-se inteiramente à doação, é dar não só a mão, mas todas as possibilidades que uma mão possui de poder dar. Dar a mão em cumprimento é dar-se inteiro, é doar-se em gesto, é cumprimentar o outro com o corpo desarmado, aberto às boas-vindas, ao welcome, à entrada a si mesmo. Dar a mão em cumprimento é um gesto de afeto em que dois seres descontínuos, porque individuais, se unem, sem qualquer conotação sexual, apenas fraternidade e amizade, apenas abertura a uma união em que nada se troca, senão o próprio gesto, senão o próprio entrelaçamento, o abraço das mãos. Dois seres que se cumprimentam com um aperto de mãos, unem seus corpos pelas palmas e dedos, unem-se pelas digitais, pelos instrumentos que usamos para tocar o mundo em suas texturas. Ao abraçarem-se pelas mãos num singelo cumprimento, dois seres separados entre si tornam-se uma coisa só, tornam-se um elo, uma união no próprio gesto que se dá, de mãos vazias, justamente por entender que a melhor coisa que podemos dar a uma outra pessoa é a nossa própria doação.