Eu tenho seus gestos na ponta da língua, na maçã das bochechas, no umbigo. Você me renasce a cada dia. A cada dia eu te sinto como se você já não fosse mais o ontem nem o hoje. Você quer ser meu amanhã? Você quer ser meu amanhã? Se eu pudesse ser o seu objeto, com certeza, seria o seu bumerangue. Você me jogaria pro vento e eu voltaria fundo, veloz, pra sua mão. Não importaria quão denso o ar que me voaria pra longe, ele me sopraria de volta a você… E de que forma você voa? Eu voo do meu voo e das suas asas na minha imaginação… E que falta eu seria se eu não te tivesse pra sair do banho e vir em minha direção com seu cheiro de primeiro encontro. É sempre assim… Como no dia em que saímos de pijamas pelo bairro porque era domingo, porque não tínhamos dinheiro pra fazer outra coisa, porque nunca tínhamos saído de pijamas juntos pelas ruas…; ou quando, no sábado à noite, a lua cheia e a agenda vazia fossem um convite pra que nos deitássemos no chão do terraço, sob um cobertor surrado e um amor acolchoado, vivendo um lual só com duas taças de vinho e dois brindes. Tudo só nosso. Como deve ser… A cada quinze segundos eu te olho de novo e de novo e de novo. Você é sempre coisa nova na minha vista. Você é sempre terra à vista… e mar. Eu não sei me pensar sem você. E olha que eu só sei pensar. Eu te penso tanto comigo que até esqueço do tempo, da vida, do amor. Eu esqueço de pensar o amor e acabo sentindo-o como um aperto, como mãos que me apertam o pescoço porque não querem deixar o meu ar impregnado pelo seu amor escapulir pelo buraco da minha garganta. É uma coisa tão grande que mal me cabe. É uma coisa tão grande que mal me entende. Que mal é esse que me sofre tão bem? Que vícios sãos essas palavras desconhecidas que eu toco ao te tocar? Tem palavras que quando saem da sua boca viciam: beijo! Adoro seus beijos e todas as suas morfologias. Adoro todas as suas derivações, carícias, amores, nasceres… Você me faz querer renascer, já que não poderei deixar de morrer. Você me faz querer renascer como quem descobre que uma vida só é pouco. É pouco demais pra te viver.
*Foto: Cristian Newman