A máquina já havia sido inventada. Muito antes da Revolução Industrial. Mas foi, neste momento, que tudo ficou definido: a máquina tornou-se mão-de-obra por definição. A máquina começou pequena. E foi crescendo em tamanho e números. Se multiplicou. Saiu do campo. Montou cidades. A máquina. A máquina foi criada para apertar parafusos. Para soldar, tecer, cozinhar. A máquina foi criada para se recriar. A máquina deixou tudo mais rápido, inclusive o tempo. A máquina se especializava e, logo, se sucateava. A máquina se substituía pela própria máquina. A máquina tinha cores variadas, aliás, era isso que a distinguia. A máquina reinventava a máquina. E inventava um novo mercado de máquinas: a máquina encaixava-se plenamente nos sistemas das máquinas. A máquina não sabia direito o que fazia. Mas fazia, com perfeição. A máquina não sabia direito por que fazia. Mas fazia, com perfeição. A máquina não fazia perguntas e isso era ótimo pros proprietários. A máquina trabalhava em série. Quando parava, talvez para questionar um procedimento, a máquina era logo tirada de circulação. A máquina não foi comprada para parar. Menos ainda para questionar. A máquina acatava todas as ordem. A máquina funcionava dentro das regras. A máquina não precisava de muito descanso. Até que sua tecnologia passou. E a máquina foi considerada obsoleta. Sem mais energia, a máquina foi desligada. Coitada da máquina. Aposentada, pobre máquina. Uma vida inteira dedicada ao servir. Mal viveu sem ser máquina. O primeiro nome da máquina?! Bom, dizem que o modelo pioneiro chamava-se HO-Mem. Mas, como toda máquina, esse nome também ficou obsoleto. Hoje é só máquina, mesmo.