Antes eu achava que ser simples era uma coisa tola, uma coisa à toa. Confundia o simples com o simplório. Achava que ter um olhar simples para o viver era uma espécie de miopia, uma catarata grave. Hoje, mais madura, ainda bem, sim, com menos firmeza na pele, mas com uma alma mais tranquila, eu vejo o quanto perdi meu tempo complicando o que não deveria ser complicado. O quanto perdi meu tempo tentando ser complexa, tentando tornar a vida hermética, o texto obtuso, as palavras opacas, as retas em curvas de curvas. Hoje percebo o quanto a simplicidade, ou a maneira simples de se encarar a vida, me faz bem. Sem que a vida seja menos por isso. Pelo contrário, ela se torna mais. Ter menos, acumular menos, precisar de menos… Transformar problema em solução, não em sim, acaso em razão. Confiar a vida a um essencial, uma coisa meio mágica, meio divina. Uma coisa com muito sentimento, muita compreensão e menos pensamento, menos matéria. Uma coisa que a gente parece só conseguir alcançar quando consegue perceber o quanto viver é se liberar de tanto verniz no olhar…
Crédito da Foto: Darren Coleshill