Ando pela cidade. Redescubro suas tintas. Meu olhar se abre para os muros. Meu olhar se abre para a vida. Olho para trás. Vejo além das placas. Além dos postes. Vejo o que não via mais. E me vejo olhando para o mundo. Com um olhar diferente. Mais atento. Com uma lente de aumento. Estamos mais próximos. Eu, as calçadas, as pessoas que me cruzam nesta caminhada. Somos todos uma coisa só. Todos ocupando um só espaço. Um só tempo. Me reconheço em tudo. Na minha camisa xadrez. Nas linhas de meus cadarços. Nas cores que colorem o grafite na parede. Tudo sou eu. E eu sou tudo. Porque eu sou o olhar do olhar. E é no olhar do olhar que eu me desnudo. É no olhar do olhar que eu te olho. No olho. E me aproximo. Você também sou eu. E agora que estamos nos vendo, eu posso, com meu silêncio de palavras, te dizer: Eu te amo. E para mim é um prazer. Poder dividir esse mundo e esse agora com você. Mesmo que talvez nunca possamos. Nesta vida. Um ao outro conhecer.
Crédito da Foto: William Stitt