Acordo oprimida. Ontem fui grossa com a moça que trabalha na padaria, gritei com meu cão, não tive paciência pra falar com meu amor. No final do dia, uma sensação de fracasso. Não soube ser aquilo que tanto posso e tanto gosto de ser: uma pessoa amorosa. Não sabia explicar. Havia algo em meu peito. Me apertando, me sufocando. Algo tão opressivo, que me gerou um transtorno, uma ira, um aprisionamento que precisava sair de mim. E saiu. Da maneira errada. Saiu magoando e oprimindo tudo e todos à minha volta. Porque eu estava sendo destruída. Por mim mesma. Então eu precisava destruir. E aí eu percebi algo que eu sempre falei pros meus alunos. ‘Percebam, agressividade é sintoma de sofrimento’. E reconheci: eu estava sofrendo. Porque só quem carrega um sofrimento quer fazer o outro sofrer. Talvez seja um modo insensato de se compartilhar, de se espalhar, de fazer com que o outro sinta o que eu sinto. Não é consciente. Não é por mal. É apenas um modo de exprimir algo que ainda não sabemos reconhecer ou resolver. Dentro de nós. Então, me compreendendo, deixei a dor me aconchegar. Abracei-a, deitei minha cabeça em seus braços e chorei. Chorei como quem chora pra fora a sua própria opressão. Chorei como quem deixa partir uma angústia. E passado o episódio, me vi um pouco mais calma. Pedi perdão aos que magoei. Me perdoei também. Machuquei quem eu amava porque eu sofria e não sabia. E magoar quem amamos é a melhor forma de nos castigarmos. E eu queria um castigo, talvez para me sentir menos culpada. Mas agora que percebi que era isso, me respirei. Me senti como só quem se sente de verdade sabe sentir. E me deixei voltar à minha antiga natureza de amor. Perdoadamente livre de culpa, liberta da noção de castigo, aberta para amar como só o amor verdadeiro sabe. Com liberdade, leveza, respeito e comunhão.
