Pelo olhar do ganhar

Antigamente, quando eu acariciava a barriga do meu cão, eu sentia a vida na minha mão e achava aquilo tão mágico, que logo me abatida uma profunda tristeza. Um sentimento de pena por aquele ser que estava vivo nessa vida tão sofrida e que mesmo assim sorria com o rabo abanando, dissabendo que tão logo não seria mais vida. E eu sentia uma pena profunda por mim, que estava na mesma condição do cão, somada a uma consciência de que era uma vida preste a se ser mais não. E eu chorava, com o sofrimento dos que olham o mundo pelo olhar da perda. Mas hoje, quando eu acaricio a barriga quentinha do meu cão e sinto ali o calor da vida, eu experimento o milagre e sua maravilha. E do mesmo jeito eu choro. Mas não mais por piedade ou sofrimento ou angústia. Hoje eu choro por não conseguir suportar em mim, sozinha, o tamanho de um milagre vivo. Choro pela imensidão da beleza que me invade e me transborda. Choro por não dar conta de suportar em mim o encantamento da contração de um pulso. E mesmo sabendo que aquela vida – e tão logo a minha – não nos será mais, eu não sofro ou me amedronto. Eu só me espanto. Por ter passado tanto tempo sem esse encanto conseguir vislumbrar. Hoje, se eu busco a vida, é no lugar da vida. No lugar em que ela não é lacuna. Mas uma cheia. De algo que, mesmo que se perca, se perder nunca irá. Pois a vida vive e sempre viverá. Em mim, em qualquer pessoa, bicho, planta, geografia ou lugar.

Crédito da Foto: Matty Sievers.


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