Falar é bom, mas escutar pode ser ainda melhor. Escutar é uma arte que demanda talento. Não é pra qualquer um. Pois escutar não quer dizer apenas fazer silêncio enquanto o outro fala, mas, sim, deixar que este outro nos adentre o corpo com os sussurros de suas palavras. Escutar não é ouvir. Ouvir é desatento. Escutar é mais: é cuidado, compreensão. O ato da escuta se refere a um deixar-se marcar pela fala alheia como se aquelas palavras fossem tinta se derramando no papel em branco de nossa alma; tinta gravando em nós uma melodia que ainda não nos pertence.
Mas aqueles que hoje detêm a arte da escuta são raros. Há muitos ouvintes, mas poucas pessoas escutando de fato. Uma pena, pois, escutar é poder olhar pelo buraco da fechadura do outro num voyeurismo consentido; é colocar o nosso tempo à disposição do tempo de outra pessoa enquanto ela se esvazia se escrevendo em nós. Na arte da escuta, o que transborda é o respeito pelas palavras íntimas do outro, estas que são tão sentimentais…
Depois de muito falar e nada calar, depois de muito calar e nada escutar, meu corpo começou a entender que, ao me interessar verdadeiramente pelo outro, eu me desapego de mim e, assim, abro espaço para enxergar os mundos escondidos por trás das tantas faces. Percebo que cada pessoa é um mundo de cores que ainda nem têm nome.
Abrindo-me à escuta sincera, descubro, nos outros, os outros lados da vida e, deste modo, interessando-me pelo outro, tenho a chance de me tornar – para mim mesma – uma pessoa muito mais interessante.