Chego na casa de minha mãe. Lá está ela, lavando louças, com uma camisa branca toda surrada, toda puída. Vou abraçá-la e noto, na frente da camisa, uma foto minha criança. Nossa, mãe, até hoje você tem essa blusa?! Tenho, não dou por nada. Essa camisa está toda troncha, mãe, já tá na hora de se desfazer… Não, essa aqui, não. Essa vai ter que se desintegrar pra eu me desfazer dela. Me lembrei que também meu padrasto tem uma camisa parecida. Com um desenho de sua filha mais nova. Toda furada, a roupa resiste. Como uma pessoa idosa tentando sobreviver depois dos cem anos. E pensei que eu também tenho, guardadas, algumas memórias materiais. Coisas que são lembranças de pessoas já idas. Coisas que materializam a presença de gente que está longe. Esses pequenos itens são como antídotos para a saudade. São pequenos amuletos que carregamos conosco para esquentar nossos corações. Sei que alguns vão dizer que são apegos. De certo modo, talvez. Mas é que há coisas que não se valem porque são coisas. Há coisas que se valem por representarem pessoas que, porque estão distantes, queremos que nos estejam sempre às mãos. Do coração.
Crédito da Foto: Liane Metzler.