A sensação do voo. Fecho os olhos. Abro as asas. Abraço o mundo. No meu peito. Um segundo. A vida se enche de ar, de cor. Sou o estar. Tudo é altar, paixão e fogo. Expiro. Desço um pouco de uma nuvem. Cruzo uma gaivota. Outra, outra. São muitas. O corpo voa comigo. Num loop. Eu sou a matéria mais viva da vida. O som mais cristalino de um silêncio puro, esvoaçante, inebriante.
A sensação do voo. Respiro. Os olhos muito abertos. Tudo lá embaixo é pequeno. Sinto, na pele, o vento em sussurro. Ele me conta um segredo. Aprendo a conhecer a imensidão de quem é livre e sabe da sua própria liberdade. Toco-a. Com os poros. Não há obstáculos para o sonho. É um salto na frente de um sol gigante. Corpo cortando um raio de luz. Me deixo levar. Sou barco de chuva em tempestade de papel. Sou um dente-de-leão no sopro de uma criança. Me despedaço. Sou muitas. Um caminho infinito de pétalas minúsculas. A sede sedenta por experiências. Eu posso. Ser possibilidades. Eu vivo. Do que respiro. Do que me inspira. O céu é um conforto. A linha do horizonte, um traço que nunca se alcança. Ainda bem. Não quero alcançar nada. Quero apenas perseguir o inalcançável. Incansavelmente.
A sensação do voo. Fecho os olhos. Lá embaixo, as pessoas. Tão pequenas. Seus cotidianos de açúcar. As tvs ligadas. As falas tropeçadas. As linhas cruzadas. Meu voo é amplo. Sem obstáculos. Posso ser uma reta sobre uma montanha. Não quero. Vivo mais as curvas. Rabisco o firmamento com minhas palavras de pele feitas de voo. Invisíveis. A sensação do topo. Respiro. Sou o verso de todas as coisas. A poesia dos momentos, dos enquantos, dos para sempre. Um segundo. Só um. E sou a humanidade em pleno ápice. Sem a queda. Só a sensação… Do voo.
*Crédito da foto: Bruna Medeiros (No instagram: @fotografia.brumedeiros)
Lindo poema.