Depois de muito relutar, você senta na cadeira. Tenta se focar. Tem uma tarefa pra cumprir, um prazo sério pra vencer. E é nessa hora que a vida parece querer te testar. O vizinho toca a campainha, o cachorro late, o correio chega, a sua sogra liga, o seu amor te grita, o seu filho chora e, na rua, um caminhão buzina. É a vida querendo te atropelar. Você sua frio. Sua vontade é de ex-plo-dir. Mandar todo mundo praquele lugar. Você respira. Conta até dez. Vinte. Sessenta e seis. Noventa e quatro. Finalmente, você consegue fingir esquecer que o mundo parece estar tentando te atrapalhar. Aquele não será o dia. Ou será? Você entende. Tem horas que é melhor parar de lutar. Abre a porta da frente: ‘vem vida, pode entrar’. Ela passa. Feito uma enxurrada. Revira a casa toda. Tira todos seus móveis do lugar. E uma vez a vida passada, você respira, aliviada. Volta pra sua cadeira. Retoma seus afazeres. É, era só mais um teste. Era só a vida querendo saber se você estava pronta pra ela. Internamente, você dá uma gargalhada daquelas. A+. Essa foi a nota que você recebeu. E, o melhor. Ninguém nem percebeu. (Um a zero eu!)
Crédito da Foto: Christophe Ferron.