Eu preciso. Preciso aceitar que eu não tenho o controle de nada. Que as respostas da vida não se encerram em minhas perguntas. Que eu posso agir até o infinito e ainda assim minha insatisfação não terá fim. Eu preciso aceitar que o sofrimento existe e que eu não posso saná-lo por completo, apenas amenizá-lo em mim e no outro com pequenos gestos de carinho e de ajuda. Eu preciso aceitar que preciso aceitar a aceitação como parte necessária à vida. Aceitação. Aceitação. Às vezes é difícil aceitar. Aceitar que precisamos aceitar. Que é assim mesmo. Que a vida é esse gesto sem fim, essa soma de somas e de perdas, essa multiplicação de dividendos, de dívidas e de dúvidas, muitas dúvidas. É preciso aceitar que estamos sendo levados por um rio incessante que desaguará no mar para amanhã se tornar nuvem no céu, para depois virar chuva a despencar ao chão, a entrar pela terra e a voltar a ser um rio incessante em busca do mar, nuvem, céu, chuva, chão, terra, rio, rio, rio… Eu preciso aceitar que a aceitação é a minha condição de sobrevivência. É isso ou ficar lutando em vão, contra a própria maneira da vida ser, como um amante que tenta impor ao outro amado aquilo que acha que o outro deveria se tornar para lhe dar a condição de amá-lo. Mas se for condicionado, não é amor. Se eu tento impor à vida a minha condição, então o que eu estou a fazer é dizer: vida, eu te quero amar como eu quero que você seja. E a vida me sorri. Seu sorriso cândido e ao mesmo tempo irônico. Como uma mãe que vê um filho fazer pirraça e quer puxar-lhe a orelha, mas decide sorrir com afeto e compreensão, por perceber no filho a ignorância de quem não compreende as condições e imposições da vida. Eu quero te aceitar, vida. Quero praticar em mim a sua e a minha própria aceitação. Te amar como você é. Mas nem sempre é fácil. Nem sempre é doce. Sei que você vai me dizer que o amargo também é um dos sabores. Que é preciso acostumá-lo ao nosso paladar, a entendê-lo apenas como mais uma das opções colocadas à língua. Eu sei. Eu estou nessa busca. Nessa busca pela compreensão de que só seremos paz se nos rendermos à essa aceitação. Eu estou nessa busca. De aprender a ser um rio que é mar que é chuva que é céu que é terra que é rio que é mar… Eu estou nessa busca de aceitar que não há crise, só crisálida e que lagarta ou borboleta, não importa, é tudo uma mesma parte do mesmo, apenas a vida sendo um rio que é mar que é chuva que é céu que é terra que é rio…