Agosto chegou e com ele vieram também suas folhas, seus escritos, sua carta. Suas palavras no papel eram o verão invadindo meu inverno. Eu era a ânsia pelo calor do corpo das suas letras na minha boca, nos meus olhos, nos meus ouvidos. E tudo o que a sua carta me dizia – sim, você tem essa mania de fazer surpresas antigas – era que você chegaria. Que logo estaríamos juntos. Que logo eu seria nós. Mas nem sempre o corpo sabe entender ou esperar a espera. O corpo queria você. Agora. Você para me abrigar do frio. Você para me abraçar do mundo. Você para me ler inteira como se eu mesma fosse a própria carta, o papel, as palavras, as letras, as vírgulas, todas as reticências… Há ventos que quando sopram são como os vendavais nas copas das árvores. Aquela dança fremente contra a cor do céu. Este mesmo céu que nos abriga sob os signos costurados pelas estrelas que só aparecem porque a noite brilha a escuridão. Te leio. Te releio. Te rereleio. Você se tornou o tempo dentro de mim. Sabe quando os relógios param? Sabe quando os órgãos se esquecem de que precisam estar em sintonia? Agosto chegou. Deixo a porta destrancada. Tiro as roupas do corpo. Nas tuas mãos, eu serei mais que a carta, que o papel, que as vírgulas. Nas tuas mãos eu serei a pele. E o ponto final.
Crédito da foto: Christophe Campbell.