Tem alguma coisa nesse meu submundo aqui… Eu posso sentir, mas ainda não posso definir… É que, enquanto não defino todas as chaves, não faço girar a engrenagem… Mas há um cheiro… Um cheiro que me diz: vá mais fundo… se descasque… pois é aí, abaixo dessa superfície, bem abaixo, que você se fará minar água… Nessa hora peço ajuda. Graças a Deus a minha parte mais importante está do meu lado de fora. O meu amor está completo e de mãos dadas me ajuda a me desvendar… a mergulhar em mim como um escafandrista no fundo do mar, sabendo que acima da superfície há alguém segurando uma corda, alguém que suporta minhas revelações por amor… Vou sentindo a pressão de minhas camadas… Meus ouvidos são pressionados para serem os ouvidos de dentro de mim… Vou e vou afundando-me, aprofundando-me… Sei que aí tem alguma coisa não desvendada… Irrevelada… O muro do medo… Por que é que preciso tanto mudar quem amo? Por que é que meu amor pede que o outro mude? Assim não poderei ter ninguém pra vida toda… porque ninguém é como eu quero, nem nunca será como eu… Neste ponto, a encruzilhada! A charada que me faz desistir das relações… Porque se alguém não muda por mim, é que não me ama… é que não me deixa ser sua essência… E se não me ama a ponto de se transformar no que eu quero não merece o meu amor, não é assim?! É assim que eu me processo… Com essa baixa tolerância à frustração de criança mimada… É assim que eu fujo da história de mim que não quero me contar… Mas não é certo!… Desse jeito há sempre a hora da mudança… Há sempre a hora de deixar, de partir… Então, por quê? Por que é que a minha interpretação correta dos fatos depende da mudança de mim? Será que é por que só quando eu mudo é que a leitura do mundo muda? Por que é que o meu Narciso grita tão bravo que não consegue admitir o diferente? Por que essa busca pelo que já é meu, pelo que já sou eu? A resposta: o controle! A minha necessidade de controlar é o que me move, o que me vive, o que me faz achar onipresente, acima do humano… E eu não suporto esse peso! Quem suportaria? Esse controle me faz querer o mais parecido com o que eu já conheço: o EU! O controle quer o que sou porque acha que em mim não há surpresas nem desfechos inesperados… No EU, eu me iludo achando que sei quem sou… Mentira! Outra mentira que você se criou! Pra que essa necessidade de não querer o inesperado? Será que é por que o inesperado não se controla?… E tudo o que não se controla, eu interpreto como dor… Se eu não sei o que vem, prefiro que não venha… Mas é nesse ponto que me privo do que poderia vir para surpreender… Pois como a minha maior surpresa foi a morte, então, interpreto surpresas como coisas ruins, como abandono. E, nessa interpretação infantil e traumática, eu me errei… Passei a querer ter o que não posso… A achar que me controlando poderia ter o controle de mim… E, ao tentar tornar o outro o que sou… achei que poderia ter o controle de mais alguma coisa… de mais um alguém… Tola! Acha mesmo que poderia ser tão poderosa a ponto de ter o controle de qualquer coisa quando não detém nem as rédeas da própria vida?… Cheguei fundo… Me descasquei… Matei meu Narciso e percebi que o meu reflexo é muito menos belo do que o diferente que me cerca… Agora, sim, posso emergir livre… Juntei minhas palavras do fundo para entender o que preciso ler e, assim, mudei a interpretação do mundo livre de mim…