As estradas não se cansam. De vir. De ir. De mim. Daqui. Parada. Olho as estradas e, quando menos percebo, já sou parte das suas caminhadas. Sigo suas curvas, plaino em suas restas. Sou um descanso, uma parada no meio de uma encruzilhada. Hesito. As estradas se abrem aos montes, são braços de um polvo nadando no mar de meus caminhos. Possíveis. São tantos oceanos. São tantas chuvas e rios e lagoas e águas. Paradas. Em redemoinho. Descendo pelo ralo. As estradas me sugam para elas. Não sei quais são os seus paradeiros, de onde nasceram, como aqui, aos meus pés, chegaram. Mas vieram. Com a vontade de quem busca as buscas só pela ânsia de descobrir-se um buscador. Ou de ser o próprio buscado. Olho as estradas, agora paralelas a mim. Umas vêm. Tantas outras vão. São elas que me deixam para trás ou fui eu quem as parti? Estou partida. Sempre fui? Andei, corri, peguei caronas, fui parar onde ninguém nunca para. Fui chegada. Por um tempo. Depois partida. Novamente. Fui um ínfimo momento dentro da vida de um movimento eterno. As estradas. Vão me chegando. Como os sonhos nos quais eu embarco. Ou são eles que me acolhem? Não sei. Nunca saberei. Não procuro respostas. Tudo é falível de explicações. Mas não as estradas. Porque elas vivem. Elas existem. Elas estão. Sempre no estado de estarem estando. Sempre no gerúndio que não admite uma placa de pare. Paro diante do siga. Sigo em frente, pra um lado, para o outro, dou a volta, um retorno, faço todas as curvas da lista de placas do manual da prova de condução. Sou a condutora dos ventos. Me conduzo. Ou não. Ou apenas me deixo, em stand by, me deito, no meio de uma duna que sopra o vento e me cobre com sua manta seca de areia. Me levanto. O sol também se levanta. Ele me mostra. As estradas. E suas diferentes entradas. Pelas estradas há um rio inteiro de margens. Um mar de direções possíveis, muitos bosques dançando fantasias. As estradas. Há saída? São saídas? As estradas. A viagem. Sou um viajante. Insisto. Não desisto. De ser o que está sempre indo. E ir, quando mesmo está ficando. Por isso fico. Parada. À espera. Das estradas. Elas vêm. Hão de vir. Sempre vêm. Param. Descansam. Retomam um pouco o fôlego. Levantam. Me sorriem. E depois vão. As estradas…