Você acorda me fazendo tranças com as suas pernas, me sorrindo lento, me tendo. Qual é a resposta pra sua charada? O que é o que é que me faz ser sem saber o que eu sou quando estou com você? Você me joga no seu tabuleiro e me tira seus obstáculos, consentindo sem consentir… Em todas as rodadas você me deixa te ganhar porque sabe que, no final das contas, quem sai ganhando quando eu ganho… é você. Você me ganha todas as vezes que me faz perder a cabeça. Quem é que sabe a fonte de tantas manias?, de tantas vontades? Se me quer livre pra ser sua, então, me ensine a voar nessa sua liberdade de gente maluca que não liga pros olhos dos julgamentos. Me ensine a educar meus sonhos e a querer buscar as saídas escondidas no seu labirinto…
Meus dedos são obcecados pelo seu perfume, pelas suas fases, pela sua pureza. Nada em você é vão. Nada em você não cabe. Nada em você é nada… Nas noites em que estou minguante, você se esgueira por meus becos e acende a luz das minhas tavernas mais sombrias. Me leva aos seus aposentos e me envolve em você como corpo mergulhado em água de banheira. Um silêncio de imersão me invade o ouvido e me silencia o fundo da alma. Eu flutuo na sua fluidez e me deixo invadir por suas carícias líquidas. Eu me sinto à vontade na sua vontade de me deixar à pele da flor…
Eu poderia ser seu cacto. E seu espinho e seu caminho… Eu poderia ser seu ventre e te deixar me parir como alguma coisa expelida. Como alguma coisa do amor. Expansivo, explosivo, aberto ao crescimento. Coisa de coisa que gera. Coisa de coisa que é capaz de gerar um ser de uma semente que mal se vê…
Eu te enxergo no escuro, na minha cegueira humana eu te vejo. E talvez, por isso, eu te sinta. Porque não há nada em você que precise de olhos pra ser visto. Você é puro sentimento. Sentimento de dedo espetado em pele de cacto que, por trás dos espinhos, só tem romance e folhas… de papel.