Um dia você acorda, vira pro lado e cadê? Não está na cama, nem em cima nem embaixo. Você levanta. Vai ao banheiro procurá-lo: nada. Não está dentro do armário nem atrás da porta. Você segue chamando por ele. Será que saiu pra comprar pão? Depois de duas horas de espera: nada. Será que foi dar uma volta, espairecer? Quem sabe uma corridinha? Quatro horas: nada. Ele sumiu. Sequestro? Você liga pra polícia. Eles lhe pedem pra esperar. Sua aflição aumenta. Você sente aquele frio no estômago. Vertigem em terra firme. Cadê? Será que se foi? Assim, sem se despedir? Teria essa frieza? Partir sem um bilhete? Você liga pros amigos: Ele apareceu por aí? Ninguém sabe de nada. Você roda que nem barata que acabou de levar um jato de Raid na cabeça. Senta-se no sofá sem querer acreditar. Será? Engole um, dois, três comprimidos de Maracujina. Muito pouco, engole mais dois. Pensando bem, ele andava estranho, distante. Mas eu perguntava o que era e ele respondia: Nada. Não é nada. No fundo, você sabia… Era alguma coisa que você não queria saber, mas sabia. Num estalo, você se lembra de olhar se a mala dele está no lugar de sempre. Sim, está. A mala, o cheiro e todas as recordações possíveis e impossíveis, incluindo você, espalhadas pelos cantos da casa. Ele voltará, você pensa. Não deixaria tudo isso pra trás… Deixaria?! Um dia depois, você já sem cabelo, sem comer e sem dormir, eis que um amigo lhe telefona: Tenho uma notícia chata pra te dar. É que ele foi visto embarcando pra Europa só com a roupa do corpo. Seus instintos tinham razão. Covarde, o amor foi embora, partiu. Acabou porque acabou com você. Sem nem sequer lhe dar satisfações.
Foto de: Erol Ahmed