Eu digo, sou vegetariana; você se defende, sou carnívoro: Muro.
Eu digo, sou flamenguista; você ataca, sou vascaíno: Muro.
Eu digo, sou esquerda caviar; você grita, sou coxinha: Muro.
Eu digo, sou Cristã; você esperneia, Ateu!: Muro.
Eu digo, verde; você cospe, amarelo: Muro.
Eu sou obeso; você esmurra a mesa, sou fit: Muro. Eu sou afro-descendente; você sobe na cadeira: branco!
Eu ganho um salário; você, vinte e quatro: Muro.
Eu sou analfabeto; você, tenho doutorado: Muro.
E por aí, vamos. Nos tijolos de nossas diferenças, construindo muros. Apontando dedos como quem usa lanças. Usando preferências e divergências como concretos duros. Esquecendo-nos de nossas semelhanças. Que são tantas e outras, porque são humanas. No final, nos tornamos um bando de fortalezas. Isoladas. Incomunicáveis como ilhas esquecidas na vastidão dos oceanos. E em nossas solidões não comungadas, nos esquecemos do motivo pelo qual estamos aqui. Juntos. Tudo porque não estamos dispostos a perceber que, apesar de parecermos estar em lados opostos, temos dentro de nós todas as pontes do mundo. E a substância que as constrói é só uma: Amor.
*Mas quem quer saber desse substantivo, né? Melhor agredir, apontar, matar, revidar, ferir… Acreditar que assim construiremos um mundo melhor, mais humano, mais afetuoso, mais justo, mais equilibrado, mais harmônico, é o mesmo que apontar na guerra a solução para o alcance da paz… Mas isso é só a minha ingênua maneira de olhar para a vida. Nada mais.