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De tudo na vida procurei mergulhos
e abismos
Faz-se em mim o desejo de ir ao fundo das coisas
como se a superfície não me fosse um apelo
e o onde o raso se esconde um punhado de areias
que não me interessasse o olhar
Vasculho a vida como se nela não houvesse portos
ou como se o risco fosse a própria causa da busca
Revelo-me a sede das imensidões
e o fundo das mágoas que não guardo
Se viver fosse apenas presságio, pressentimento ou defesa
então eu preferiria ser o peito aberto
no punho afiado de todo espinho,
a carne dilacerada na fresta
por onde no instante resta
o raio último de sol
Preciso do fundo para me entender
De altas densidades se faz minha caminhada
Não guardo rancores daqueles que apenas passaram como brisas
ou que mal toque se fizeram sobre a minha pele,
mas os que se inscreveram como tatuagens
guardo como se fossem lágrimas
de alegria e estupor
No amor às coisas que marcam profundamente
respira em mim a vida
de todas as pessoas
E no dia em que ela tiver de vir,
que a morte me venha
como o prazer dos olhos fechados
às paredes de nosso quarto
rendido ao amor
e ao sexo.