Acho muito engraçado quando ouço coisas do tipo: ‘ah, eu detesto velórios, por isso não vou a nenhum’. Ou: ‘ah, visitar pessoas no hospital é muito mórbido, por isso prefiro evitar’. E uso a palavra engraçado por achar que engraçado é tudo aquilo que pra mim não faz o menor sentido, ou melhor, que faz tanto sentido que não faz o menor sentido dizer. Porque é óbvio que ninguém gosta de ir a um velório. Por mais apaziguados que estejamos com a morte, estar de frente pra ela, num corpo cercado por sofrimento e sentimento de perda pelos que ficam, é sempre um lugar de dificuldade. E da mesma forma, é óbvio que hospitais são lugares de morbidade. Ninguém vai a um hospital por estar extremamente saudável. Ninguém acorda se sentindo bem e diz: ‘hum, não tenho programa pra esse domingão de sol. Quer saber, acho que vou ao hospital’. Então pra mim fica muito claro que, quando vamos a um velório ou a um hospital, o fazemos por entender que para aqueles que estão neste lugar de sofrimento e de vulnerabilidade é importante demais saberem-se amados, sentirem-se merecedores deste afeto, desta consideração sincera. Nos momentos de festa, maravilhoso. Estar neles também é tão importante quanto. Mas só estar neles, aí desequilibra a balancinha. Como se o lugar da vida de alguém só nos fosse cativo enquanto a pessoa nos for leveza. Mas na hora do pesar, ‘epa, pera aê, que desculpa eu vou inventar?!’ A vida é linda nas levezas. Um encanto. Mas também é tão vida quanto. No peso do pesar.