Estava pronta. Estava? As paredes já tinham subido. Os rebocos, escondidos. As estruturas no lugar das aparências. Todos os rejuntes nos ladrilhos. O encanamento encanado. As torneiras jorrando águas correntes. As descargas descargando os restos da vida. Toda a parte elétrica de fios terras aterrados, profundamente. O chão no chão. Revestido de madeira sintecada. As esquadrias das janelas. Os vidros lavados. A transparência do dia vazava no interior. A campainha soava. Até alto demais. As cortinas, obedecendo os caminhos do vento. A mobília móvel. A escada assegurada no corrimão. A pintura acetinada. Os adornos do banheiro. As flores na mesa de centro. As velas perfumadas. Tudo ou quase tudo pronto. Nada ou quase nada pronto. A obra terminada ainda sem terminar. Não com o chuveiro queimado, depois consertado. Não com a torneira entupida, depois desentupida. Não sem luz na área de serviço, depois iluminada. Não com as flores da sala murchas, depois aguadas. Não com o sofá sem chegar, depois chegado. Não com o aspirador de pó pifado, depois consertado. Não com a mesa da copa bamba, depois encalçada. Não com a porta do quarto rangida, depois azeitada. Não com a infiltração no lavabo, depois rejuntada. Não com o piso riscado, depois arrumado. Não com o céu destelhado, depois estrelado. Não com o vidro da janela sujo, depois lavado. Não com o espelho trincado, depois alisado. Não com os jogos de pratos desconjuntados, depois completados. Não com as taças de vinho ausentadas, depois presenteadas. Não com o sempre fora do lugar. Por mais terminado que fosse, era um lugar a se terminar. E o charme era esse. Sem terminar, a vida como um lugar sempre fora do lugar…