A eternidade morreu. E a vida tornou-se um jornal. Digital. Não há mais passados distantes. O hoje é só hoje mesmo. Múltiplo. Dividido em semanas de um hoje: há o hoje de hoje de hoje de hoje de hoje de hoje. O hoje muda hoje muito antes do amanhã que chega em trinta segundos. Os jornais se atualizam. As informações voláteis se realizam. O mundo não para, sabia? Houve um assalto há trinta minutos, um atropelamento há quinze, a morte de um famoso há dez, a queda de um avião há cinco e há o agora. Que já muda logo agora. Respiramos aliviados. Somos filhos da mudança e, assim, vivemos de mudança. Queremos viver mais que a morte. Queremos ser mais vidas. Não. A eternidade não existe mais. Então, vivamos. Tanto. Criando dias de 36 horas. Ocupando cada uma delas. Sem tempo para nos entediarmos. Sem tempo para termos tempo. Sem horas para um romance. Sem minutos para longas conversas, sem tempo para frases inteiras. Abrevie-se, por favor. Resuma-se. Comprima-se no espaço de sete minutos. Conte-se num micro-conto. Seja-se em 140 caracteres. Arrume-se projetos. Você precisa de um projeto. E de um pós-projeto para o pós do pós-projeto. O projeto de hoje é projetar projetos. É preciso. É preciso não poder parar. É preciso não ter tempo para pensar. Entender? Para quê? As notícias se acumulam que é pra ninguém querer saber. Não queremos saber de nossas vidas. Só carecemos do extraordinário das manchetes. Ele, sim, é profundamente relevante, certo?! Tenha sempre notícias das notícias. Troque o que está novo. Atualize o que não está velho. Mude o que está mudo. Substitua o insubstituível. Isto é a vida: a vida perecível. Eu pereço, tu pereces, ele perece. Nós perecemos. Rápido demais. Mais ainda quando tudo parece perecer antes mesmo de perecer.