Não é que eu não queira… mas eu acho que não quero. É medo, sou covarde, sou ínfima, é verdade. Eu tenho receio. Temo que o amor venha a falhar, que as horas se tornem chatas, que a rotina nos coma no café, que o sexo desça pela descarga de porta aberta. Eu não sei o que quero mais e nem o que mais quero. Quero casar, mas não quero. Não quero ter de me decidir, mas se não me decidir me decido. Ao não me saber, me sei. Sei mais que ninguém que o tanto que quero, não quero. E o tanto que não quero, quero. Eu quero, eu quero, eu quero. Eu quero do mesmo jeito que quero querer, mas não sei se já quero… Sei que ainda irei e que quero agora, mas não ainda. Talvez amanhã, talvez ontem, talvez hoje, talvez nunca, talvez sempre quisesse como um sonho que tenho querido desde criança. Ou quem sabe dia sim dia não eu queira. E logo depois desqueira. Eu nunca sei o que quero… E muito menos o que não quero. Ou quem sabe todos os dias eu queira e, então, não queira dia nenhum. Não sei querer o que quero e nem o que não quero. E sei que não sabendo o que quero vou te perder… E isso eu sei que não quero. Então, por tabela, e por saber que não quero estar sem você, porque se não casar estarei, acabo querendo querer o que não sei se quero. Acho graça dessa sua certeza. Você tem certeza? Absolutamente sabe que quer casar? Você tem certeza de que terá o mesmo amor por mim no hoje e no amanhã de quinze anos depois? Você tem plena convicção de que faremos amor da mesma forma, de que nosso forno manterá as altas temperaturas, de que nossos humores se aguentarão? Eu queria que isso tudo fosse verdade, mas cadê a garantia?! Como você sabe se quer o que quer se nunca se casou comigo? Como você sabe que me quer pra sempre se nunca dividimos as contas diárias, se nunca fomos cúmplices de cotidiano, se nosso amor é coisa de ardentes finais de semana? Eu quero casar, mas não sei se quero… Eu quero casar, mas não sei se casando você vai me querer pra sempre… Eu quero casar mas não sei se casando vou te perder… Entende a minha angústia? É um tal de não saber demais… É um tal de arriscar demais… Sou tão complicada… Como você sabe se sou pra você pra sempre? Como você sabe que você é pra você pra sempre? E se os seus quereres mudarem? Você me garante o seu querer? Eu vivo pendular… me pendurando uma hora aqui outra lá… E sou tão fraca, flutuando nas minhas oscilações… Ah, se eu tivesse essa sua constância… Ah, se eu fosse menos romântica e mais prática… Te casaria hoje e sempre e pronto! Finito! Mas sou tantas e várias… E tão de lua que chego a ser previsível… Previsível demais pra você! Daí, se me perguntou ontem se quero, não queria!… Mas venha hoje que eu te digo: Eu quero casar com você pra sempre!
*Crédito da Foto: Austin Prock.