Fico te perseguindo nos poemas dos outros. Abro o Jóquei, da Campilho. Ah, Matilde, você fala o que eu falaria, você me cala. Enquanto isso, na leitura, eu continuo te procurando pelos caminhos perdidos nos vãos que separam as palavras. Por isso gosto tanto da letra à mão. Há mais união nas palavras unidas pelas mãos. Há menos lacunas, poucos silêncios quando as letras se unem à força dos gestos de uma mão que queria se ver de mãos dadas com as suas. De mãos dadas, as palavras pousam o papel, feito nuvem, que não passa de um número imenso de gotas que decidiram voar para no céu feito pássaros livres; feito nuvem, que não passa de uma série de gotículas brincando de roda nas alturas onde só os anjos e sol alcançam, querendo estar junto, feito eu, neste momento, longe de você e pelo pensamento, sentimento, momento e, mesmo assim, na distância, estando tão junto. Feito nuvens vagando pelo firmamento, minhas palavras se deitam no papel, deixando uma trilha que pode ser lida no sentido das palavras-pegadas que se apegam à folha como se para não se perderem, como se para poderem reencontrar seu caminho de volta. Mas todos os sentidos que sentimos não voltam quando o que já é ido é foi. Você foi e eu não tenho mais ninguém aqui para brincar de além de amizade comigo. Você foi e eu não tenho mais suas mãos para deitar os dedos sobre os meus cabelos, para escreverem as palavras de um cafuné silencioso. Sem suas mãos eu sou apenas um garrancho, uma carta escrita com letras de forma que se unem sem toque. Sem toque. Sem toque…
Crédito da Foto: Patryk Sobczak.