De qual erro você se alimenta? Passado ou futuro? Vive de qual destes? Se vive de passado, nostalgia, lamento; se de futuro, anseio… A hora é de um só instante: AGORA! O agora pode não ser tão atraente quanto o passado de nossas memórias: confortável hotel para momentos bons, cárcere solitário para os ruins… O agora pode não ser tão intenso quanto uma previsão de futuro, que é o sonho de transformação de onde se deixa levar o casulo para transcender à borboleta.
Ao voarmos em tapetes de pensamentos, nos capturamos em uma rede de realidades místicas. O tempo tem a hora certa pra chegar… Vem e nos ata com asas de borboletas ao casulo, que é pra nos revelar o encontro com o seu presente… este agora desgovernado, fugitivo da coleira do amanhã… Então, o que fazer? Como viver intensamente o agora se este agora nem mesmo é o mesmo agora de antes? Eu quero agora, mas querer agora será, agora mesmo, passado e será, logo agora, futuro.
Agora, eu quero agora, tanto quanto já o quis antes e tanto quanto ainda irei querê-lo. Agora, esse vento que não vemos… Impossível utopia de uma hora que dispensa donos. Se nem o carpe diem deu conta dele… como qualquer de mim poderia dar? Uma soma de “estar” é o que nos levará a “ser”. Ser é já ter estado em muitas salas-de-estar do agora. Do agora meu, do agora seu. É árduo viver o agora, se este se rouba ao tempo. É cético viver o agora num corpo com uma mente que, como o tempo, pode, a seu bel prazer, se fazer atemporal e invadir todos os espaços de tempos vividos.
O desejo de querer viver agora se contradiz em si mesmo. É batalha que se trava entre a consciência de que não se vive o agora por mais tempo do que agora versus o desejo infantil de quem quer agora para sempre… Mas a razão é a razão. Só vencível por quem não quer a verdade. E a verdade é que até a verdade pode se fantasiar de ilusões. Construções ingênuas da mente que mente a si mesma tentando acreditar que o agora se prende a nós… É como amar quem não nos ama, mas nem por isso o sentimento derrete.
Nem agora nem nunca, os agoras serão nossos. Nem agora nem nunca, o futuro ou o passado do agora estará em nossas mãos. Incontrolável se torna nossa busca. Talvez por isso tão cobiçado. Quem não quer o que não pode ter?
Nessa aflição meu agora agoura e eu me entorpeço com os fragmentos de instantes de um agorar sem tempo. Vivo é de migalhas que me despertam para um doce mundo no qual os agoras são estáticos, engessados pela minha insistente mania de “agorar”.