Meu mar está agitado. Sinto as ondas dentro de mim a quebrar. Um ritmo de caos bate em meu peito. Sou um mar ofegante de ondas gigantes que se dobram e se desdobram sobre si mesmas. Um mar de tormenta. Paro. Respiro. Redimensiono. Voo para longe de mim para me observar. Do alto. Sou uma gaivota a me olhar como um mar ofegante, lá em embaixo, sem descanso. A espuma das ondas me mostra que há ainda muito barulho. As espumas brancas me revelam as cicatrizes de onde se quebram as ondas. Outra onda. Outra onda. Mergulho. Feito um pássaro mergulhão a mais de 150 quilômetros por hora dentro do meu próprio peito. Meu mar. Vou ao fundo. Olho agora para cima. Vistas de baixo, as ondas que quebram seguem, ainda, embaçando a visão de um céu. Vejo ainda as espumas. Mas já não ouço o barulho do caos. Lá embaixo das ondas há uma calmaria, descansa a linguagem oceânica do silêncio. Uma paz. A tranquilidade se faz mais perto das areias do que das superfícies. As superfícies são muito superficiais. Se deixam convencer de que não há mais calma. Mas há. Lá em cima havia. Cá embaixo ainda há. Estou mergulhada no meu próprio peito e agora vejo as ondas se acalmarem. Respiro fundo. Me concentro na minha respiração. Sinto o dia cinza ir ganhando alguma coisa. Menos cinza. Menos denso. Aos poucos, as nuvens se dissipam e o mar feroz vai se tornando um cão dócil, meigo, à espera de afagos. A violência escondia um sentimento de tristeza. Eu queria apenas chorar. Choro. Engasgo um pouco. Ainda estou debaixo d’água. Ainda sou um pássaro mergulhado no mar de meu próprio peito. Mas não vejo mais as ondas se digladiarem umas sobre as outras. O mar entra em calmaria. Era eu quem me perdia. Percebo. Não podemos dar ouvidos às superfícies. O espírito respira melhor no fundo ou no alto, onde as dimensões das coisas se reduzem, onde tudo vira um pequeno ponto. Silencioso. E diminuto. Como no fundo toda a vida é.
*Crédito da Foto: Cristian Alvarez.