Olhe. Olhe pra mim. Olhe pros meus olhos, pro meu rosto nesta foto. Por este ângulo, por este, por este. Olhe. Olhe pra mim. Eu tirei minhas selfies pra você me notar, pra você me curtir, pra você me amar. Olhe. Olhe pra minha barriga lisinha, pro meu perfil, pra paisagem da minha viagem, pra minha arte, pra minha letra. Leia meus textos, acompanhe meus stories, comente meus vídeos. Olhe. Olhe pra esta nova selfie. Parece idêntica a anterior, mas não é. Olhe. Olhe como eu sou cool! Veja como eu sou da hora! Vou postar outra foto, mesmo ângulo, você vai me amar. Olhe. Olhe pra mim. A minha imagem é o melhor que eu tenho pra lhe dar. Olhe. Olhe como eu sou boazinha. Eu aceitei seu pedido pra me seguir. Eu deixei você assistir aos capítulos da minha vida seriada. Eu sei, eu sei. Nasci legal assim mesmo. Por isso eu lhe dou esse presente. O álbum de uma vida de ficção direto na minha timeline. Uma lembrança pra você nunca parar de me curtir.
Olhe. Olhe pra mim. Note como eu sou especial. Como a minha vida é extraordinária. Como tudo o que eu digo é para além do normal. Eu me amo tanto. Mas você também precisa me amar. Posto todo dia pra você perceber isso, preciso do seu olhar pra me acompanhar. Olhe. Olhe para mim. Eu não sou nada carente, mas necessito da sua atenção. Eu digo que me amo o suficiente, só que eu preciso de mais, quem não? Olhe, olhe para mim. Eu sou um reflexo, meu perfil é meu espelho e eu quero que você se olhe nele e queira ser como eu. Mi selfie, tu selfie, entendeu?! Olhe. Olhe para mim. Desejar se tornar quem eu sou só pode ser o seu fim! Olhe. Olhe pra mim. Me diga, você, seguidor, espelho, espelho meu, se existe alguém mais perfeito do que o nosso eu?!
*Só pra avisar… Tem dias em que essa persona de TPM decide escrever no meu lugar. O bom é que ela não tem medo de falar o que muitos de nós já sabemos, mas resistimos a aceitar. Ao menos, temos a chance de encenar nossos egos coletivamente. E isso também é ser parte da humanidade. Assumir que estamos juntos. Vivendo um teatro no lugar da vida. E daí?! Viver também é brincar de ficção, por quê, não?! Brindes. Como você, eu também estou aqui, ali e lá, afinal, precisamos, para respirar, estarmos em todo lugar. E relembrando Baudelaire: “hipócrita leitor, meu igual, meu irmão”… Que sua vida seja além de vida, a consciência desta ilusão.