Sigo… Vivendo com o sufoco da sua ausência que me embola a fala, que me enforca a paz. Eu aqui com os miolos cheios de você e o resto todo em falta… Numa adolescência tardia. Vivendo de coleção própria do álbum de figurinhas da memória. Descobrindo os dias em que te revelo nas noites. Cada te conhecer, um grau a mais de paixão. Termômetro que estoura quente derramando mercúrio tóxico. Envenenando-me. Parando de entender para sentir coisas estranhas que nos estranham tão bem no descabido…
É tanta familiaridade… Como é que se esfria uma fervura que vem de dentro pra fora? Olho no olho, coração fugindo da mão e mão buscando saliva em dedos… Como, sem querer, você me transferiu seus ângulos e me ensinou a dormir na sua concha? Já diagnostiquei o seu mapa e você é o meu ponto final, a bula, a cura aos amores desfeitos… Aposta que me bateu em cheio, acertou bem no meio.
Aos meus amigos imaginários, a famosa turma de mim mesma, digo o quanto é bom te amar. Sintonia de pele, sinfonia de carne… Como se o mundo terminasse ali, naquela linha do horizonte que poderia, um dia, nos separar em abismo.
E pensar que quando você mergulhou no meu lago suspeitei que se afogaria, mas não… Oxigenou-me com seu anzol de ponta afiada. Fisgou-me pela boca, tirou-me as escamas. Limpou minha lama com sua faca de dentes e me fez querer respirar com guelras de sonho. Levou minha essência à superfície do romantismo perdido. Fiquei brega. Nadei feliz… Aumentei minha massa muscular e ganhei forças pra digerir o indigesto e suportar o peso da vida. Foi uma vontade catastrófica de jogar tudo pro alto e correr atrás de você como um cãozinho que sente o osso pelo faro. Cerquei-me dos seus limites de pessoa responsável que me faz rodar nos eixos, me carregando de seus olhares, me levando pelas mãos aos seus pontos turísticos…
Faltam-me novidades à distância… Desliga-se a beleza quando o adeus chega pelo telefone. Ouvir seu cheiro. Sentir sua voz… Começar uma sensação que cresce somente do início ao fim dos dias e que me faz levantar com dois pés direitos e dizer ‘boa noite’ na cama das nuvens…
Desafiando meu sossego, provocando meu juízo… Você consegue ser duas das minhas coisas preferidas: a minha música e a minha coisa.
Seus sorrisos múltiplos me extorquem sentidos. E suas vontades me entopem de pensamentos que me paralisam o corpo.
Sempre procurei um livro pra viver… Ao te abrir a primeira página, escrevi, em meu início, seu parágrafo final.