Eu monologo contigo. Você monologa comigo. E ninguém dialoga. Porque no fundo ninguém parece querer dialogar. Eu falo. E acredito que minhas palavras deveriam ser as suas. Você fala. E acredita que suas palavras deveriam ser as minhas. Ambos falamos. Mas ninguém se escuta. Porque falamos juntos, ao mesmo tempo, e assim nos mantemos separados. Enquanto você fala, eu falo mais alto. Enquanto eu falo, você fala mais alto. E dialogando nos monologamos. Sem perceber que o outro de nós também tem o direito de falar. ‘Você não vai me convencer’, você grita. E, falando ao mesmo tempo, eu te respondo urrando: ‘Você também não vai me convencer’. E apartados seguimos conversando. Sem que nossos versos se toquem. Porque nos esquecemos que con-versar é versar-com. Mas nossos versos são solos. E, assim, matamos qualquer possibilidade de encontro. E, assim, matamos qualquer possibilidade de nos encontrarmos em nossas diferenças. E esquecemos que nossa diferença é o que nos faz semelhante. Semelhantemente humanos. Em nosso monólogo dual, somos a distância convertida em palavras. E em nossas palavras partidas, nos perdemos do sentido da palavra que nos justifica nesta vida: Comunhão. Nasceremos, cresceremos e morreremos. Sós. Com nossos monólogos profundamente enterrados no meio de nossas desconversadas ‘semversas’.
Crédito da foto: Mike Wilson.