O telefone toca. É ele. Ai, mas hoje eu não tava a fim de falar. Mas ele insiste. Uma, duas, três, vinte chamadas não atendidas. Você resiste. Põe o celular no silencioso. Mas você sabe. Ele está lá. Ele vai voltar a tentar falar com você. Ele manda mensagens no whats app. Você ignora. Bloquear? Talvez. Por quanto tempo? Um dia, uma semana, toda a vida? Até que, no meio de uma pausa pro café, ele, mais uma vez, talvez a última, tenta te contactar. Você se decide. Quem sabe. Só dessa vez. Ok, vou atender. Alô, oi Sofrimento. É, eu sei, eu vi suas ligações. Desculpe. Sei lá, preciso ser sincera. Naquele momento eu não sabia como te atender. Não tinha uma desculpa pra te dar, não estava preparada, entende? Sabe aquelas épocas em que a gente só quer fingir que está feliz. Fotos de sorrisos no Insta, abraços e amigos e festas no Face. Essas coisas que a gente precisa postar pra, sei lá, tentar continuar a brincar, tentar se esconder quando na verdade a gente só precisava se deixar sofrer. Mas faz parte. É comum. Às vezes necessitamos disso. Não atender suas ligações. Fingir que não vimos suas inúmeras mensagens. Sei lá, talvez imaturidade, talvez medo. Sabe aquele medo de se enfrentar? Aquele que é o pior dos medos, o medo de se admitir, o medo de se permitir entrar… Porque a gente sabe que te olhar no olho vai nos fazer doer. Seu nome é Sofrimento e toda gente sabe o porquê. Então, me desculpe se eu fugi. Não tinha forças. Antes. Mas agora estou aqui. De braços abertos. ‘Estou indo pra aí’, ele diz. Eu e ele entramos no quarto, fazemos as pazes, nos dizemos tudo aquilo que nos estava engasgado, que nos maltratava o espírito. Choramos. Caímos. Mas depois, alma lavada, sorrimos. Juntos. Ele parte. E eu lhe digo: ei, espera um pouco. Dou-lhe um abraço sincero e, no seu ouvido: muito obrigada!