Há, no Budismo, um conceito chamado “Impermanência”. Trata-se daquilo que a própria palavra traduz: tudo é impermanente, nada é imutável, o para sempre sempre acaba. Numa cena do passado e repassado filme “O pequeno Buda”, de Bernardo Bertolucci, há um monge desenhando uma grande mandala no chão com grãos coloridos de areia. Quando perguntado por que fazê-la com areia, o monge responde: para que, depois de feita, ela possa seguir as leis do universo e ser desfeita com um só gesto…
Tudo na vida começa e termina com um só gesto. Somos uma história escrita num pedaço de areia que fica ao lado do mar. E é justamente por isso que não devemos nos prender a coisas que nos fazem mal. Nosso tempo é curto, nossa vida é pouca. Então, paremos de nos agarrar a coisas que são como pó de vidro que, apesar de tão pequeno e fino, é capaz de nos rasgar por dentro de maneira tão imensa.
Não devemos nos atar ao que nos tira a vida, esta evidência da Impermanência. E, sendo todos impermanentes, seria bom se pudéssemos de fato ser – como somos – livres para nos libertar, livres para entendermos que as chaves de nossas prisões estão nos bolsos de nossos casacos de pele.
Agarrar-se ao que nos faz mal é largar um pedaço da vida pela estrada esburacada do destino. Prender-se a arrependimentos e a mágoas é tentar brecar o princípio da Impermanência, é tentar dar permanência a algo que já passou, a algo que a cal do tempo enterrou, que não permanece mais. Prender mágoas que são de ferro dentro de um peito que é de carne é se dilacerar; é expor os olhos abertos da alma às cortantes areias das tempestades dos desertos.
Nas rosas da vida, há espinhosos espinhos, é verdade… Mas é preciso entendermos que a escolha de ficarmos apertando os espinhos ou acariciando as pétalas está na escrita das linhas de nossas mãos.