Li, em algum lugar que não lembro, uma pesquisa sobre medos humanos e fiquei impressionadíssima ao saber que a morte não ocupava o topo da lista. A medalha de ouro dos medos, o Grande Medo dos Medos, é o medo de falar em público. Não sei se é porque nos iludimos achando que a morte nunca vai nos acontecer e, por isso, não nos preocupamos muito com ela, mas acho que o resultado dessa pesquisa quer nos dizer alguma coisa que, apesar de essencial, não costumamos dar muita bola: o fato de que tememos mais um outro ser humano do que o próprio “Desconhecido”.
Revirando meu baú de memórias, listei as vezes em que senti medo de me colocar à frente das pessoas. Cheguei à conclusão de que os momentos de temor estavam relacionados a duas coisas: ou à falta de domínio do tema sobre o qual eu deveria falar; ou ao fato de haver, na plateia, pessoas as quais eu gostaria de impressionar. E foi a partir deste segundo ponto, que eu pude entender que o medo de falar em público nada mais é do que o medo que temos de não sermos aceitos, de não agradarmos, de não sermos correspondidos… Somos seres tão frágeis, que queremos, a qualquer custo, que o outro nos aceite, que nos admire, que nos ache uma pessoa interessante. Assim, nos esforçamos para sermos, muitas das vezes, uma pessoa que não somos. Em decorrência disso, perdemos nossa naturalidade, deixamos de lado nossa espontaneidade e revelamos toda a nossa insegurança. E, realmente, pessoas inseguras não costumam convencer. Mas não é porque não convencem o outro: pessoas inseguras não convencem o outro porque não se convencem.
Normalmente, nossa insegurança costuma nascer de nossa própria falta de auto-conhecimento e, por conseguinte, de nossa própria falta de auto-aceitação. Infelizmente, não nos conhecemos o suficiente para nos aceitarmos e, portanto, não aprendemos a gostar de quem somos. E por que será que, em vez de ficarmos nos preocupando com o que o outro pensa de nós, não nos perguntamos o que nós achamos de nós? Lamentavelmente, não nos fazemos essa pergunta porque somos muito cruéis quando se trata de nós mesmos. Estamos sempre dando um jeito de nos diminuirmos, de nos sabotarmos, de no castigarmos. Por que será que precisamos ser tão auto-críticos a ponto de nem precisamos do outro para nos condenar? Por que será que, antes de qualquer outro ser humano, nós acreditamos que devemos ter o privilégio de sermos nossos piores carrascos?
No fundo, o medo do outro só nos mostra nossa própria falta de auto-aceitação. Quando estamos confortáveis com quem somos, automaticamente, nos mostramos pessoas bem aceitas e, paradoxalmente, acabamos por fazer aquilo que gostaríamos desde o início, mas sem esforço: fazer com que o outro nos aceite. E caso isso não aconteça, tudo bem, o importante é nos cercarmos de pessoas que gostem de nós pelo que somos, não pelo que fingimos ser. E quanto às críticas? Ora, as pessoas sempre terão tempo de sobra para elas. Sempre haverá um defeito para se apontar, um motivo para se difamar, um bode para se expiar. Se até Jesus Cristo – o filho do Cara – teve críticos, imagine quantas imperfeições o mundo não achará em nós?!
Adorei. Também sou muito inseguro. Às vezes, não sei se é insegurança ou timidez (ou ambos…). E pensei muito no que você disse, Domingas, sobre darmos mais valor ao que o outro vai pensar de nós do que aquilo que somos realmente. Adorei a frase: “No fundo, o medo do outro só nos mostra nossa própria falta de auto-aceitação”.!!