Estava assistindo a um programa sobre um centro de reabilitação na África que recolhe animais selvagens que, por algum motivo, se perderam do rebanho selvagem. O intuito do centro é reabilitar os animais para sua futura reinserção nas florestas. E eis que, nesse abrigo, havia dois animais que chamaram muito a minha atenção: um carneiro, um elefante pequeno e uma girafa. Essas três espécies que, se tivessem sido criadas na savana por seus rebanhos nunca teriam nada em comum ou qualquer vínculo, ali, por conta daquela criação integrada, se apegaram de uma maneira muito interessante.
Os três animais brincavam como se fossem da mesma manada, como se não houvesse ali uma diferença biológica imensa. Era até engraçado. A girafa foi a primeira a ser reintegrada. Já o carneiro e o elefantinho, eram mais próximos. Os dois tornaram-se amigos inseparáveis. Dormiam juntos, comiam juntos, faziam tudo juntos. Foi lindo ver o elefantinho ficar o tempo todo chamando o carneiro para brincar. Nem pareciam ser tão diferentes.
Até que, um dia, o carneiro foi levado para ser tosado. O elefantinho, deixado no viveiro passou o dia todo amuado, sentindo a falta do amigo. Ficava de um lado para o outro, cheirando os locais que o colega costumava ficar. Até que, no fim da tarde, o carneiro reapareceu sem lã no corpo. O elefantinho saiu correndo atrás do carneiro, pois sentiu seu cheiro de longe. Mas, ao chegar perto daquela criatura pelada, estranhou e ficou cabreiro. Não quis se aproximar e levou algum tempo para se acostumar com aquela mudança. Contudo, depois de se certificar de que aquele era mesmo seu antigo amigo, voltou a ser carinhoso com o carneirinho…
Esse programa me colocou para pensar em como a vida divide as coisas. Em como, talvez, seja apenas por falta de oportunidade que as espécies não se misturem. Nós conhecemos várias situações de porquinhos que adotam cachorrinhos, de patos que adotam pintinhos, enfim, há sempre um laço ligando a vida. E, a partir dessa percepção, entendi a raiz do preconceito humano. Apesar de sermos da mesma espécie, viemos à vida em raças diferentes. Somos negros, brancos, orientais, etc. Somos de várias formas, mas não seríamos distantes se não fôssemos criados com tanta distância, com ideias de superioridades diversas, de classes sociais, enfim, de questões que nos separam dos laços de igualdade e irmandade.
Foi bom ver esses dois animais num amor de comunhão. Duas espécies tão diferentes, com toda a sua suposta “irracionalidade animal”, souberam amar-se de uma forma que os humanos, da mesma espécie, tão racionais, parecem não saber. Então, eu insisto na pergunta: quem são mesmo os seres irracionais da vida?
Lindo!
Valeu, amore!