O coração de uma fera

Não se amansa o coração de uma fera com mil chicotes

nem com chineladas

tampouco com socos e pontapés

 

Não se amansa o coração de uma fera

com cento e cinquenta pauladas bem dadas

nem com cintadas

muito menos com dezoito marteladas

 

Não se amansa o coração de uma fera

com vinte beliscões

nem com dez dezenas de cascudos

ou meia dúzia de empurrões

 

O coração de uma fera é à prova de balas

resiste a sprays de pimenta

e a bombas de gás lacrimogênio

 

Mas há coisas para as quais o coração de uma fera

não está preparado:

uma flor, por exemplo,

seguida de um sorriso sincero

uma palavra de afeto

e um colo de afago

 

Mas há coisas para as quais o coração de uma fera

não está preparado:

um coração disposto a aceitar seu coração

uma mão que se deixe acariciar as cicatrizes

de seus espinhos

Porque ter espinhos

é pelo corpo da alma

carregar dores e chagas

 

Não, por estas violências, o coração de uma fera não espera

porque nunca foi assim ensinado

E, por isso, quando as vilezas de tais gentilezas acontecem,

os corações das feras se abrem

e caem todos

derrotados…

 

Crédito da foto: Tim Marshall

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *