O homem da cobertura tinha o fascínio das alturas. Altivo, sonhava construir o edifício mais alto do mundo. E assim o fez. Dizia que se tivesse vivido naquela época, a Torre de Babel teria alcançado o céu, e ele olharia os homens feito Deus. E suas obras subiam, se aproximavam da imensidão. Nos primeiros andares de sua vida, viu os pássaros voarem de perto. Depois, as nuvens. Depois nem elas. Construiu o prédio mais alto do mundo. Verticalizou as estrelas. Acendeu constelações artificiais. A vida de Aquiles parecia maior que a dos outros homens. Das alturas, estes eram formigas mortais. Mal podia vê-los, aqueles pontos-cegos. Como em qualquer mercado imobiliário, os andares mais baixos eram os mais baratos. E os preços dos apartamentos subiam conforme a vista de cima dos homens os diminuía. As coberturas, restritas. E todos os ricos, do alto, achavam-se maiores vendo os homens debaixo menores. Os homens debaixo eram diminutos. Diminuídos pela distância. E os de cima, poucos. E todos sabiam o seu lugar dentro da vida daqueles edifícios. Os homens da cobertura ocupavam o teto. Os do térreo, o chão. Aquiles já não enxergava mais os homens de baixo. Isolado em sua ilha cercada de ar, comprou-se, então, um telescópio. Passava os dias com os olhos metidos nas lentes a observar, por entre as nuvens, a pequena vida dos homens. Pensava: coitados, tão pequenos. E ele tanto e tão. Metade da cidade já estava tomada por seus arranha-céus. Aquiles, orgulhoso. Graças a ele, o sol se tornara um bem inacessível aos homens dos andares de baixo. Aos homens do térreo, os pobres terrenos, a luz natural era um luxo pelo qual não se podia pagar. O homem da cobertura parecia feliz. Até que um dia, nuvens escuras se estancaram abaixo de suas janelas. E não saíram mais. Os homens terrenos, juntos, em seus dias escuros. Enquanto Aquiles, acima das trovoadas, tinha, só, todos os dias ensolarados. Um mês depois, Aquiles se jogou ao chão. Não aguentou ser, como um Deus, o único dono de tanta luz.