Meu cabelo é ruivo, é liso é encaracolado é negro é crespo é alisado. Meu cabelo é castanho, com pontas vermelhas, com o meio no sobretom para combinar com o meu batom. Meu cabelo é cinza, platinado, picotado, estilizado, meu cabelo é coroado, enturmado, entrançado. Meu cabelo é raspado, sou careca, tirei o cabelo da cabeça, troquei-o por uma coleção de lenços, de bonés, de perucas, de qualquer coisa que eu quiser. Meu cabelo é branco, uma folha de papel pronta para tornar-se roxa, azul, verde ou até cor de mel. Meu cabelo é rasta, vai quase até o joelho, é outro ou é um liso tão comprido, que mal cabe no espelho. Meu cabelo é meu, é bonito tanto quanto o seu. Meu cabelo pode ser de qualquer jeito, da forma que nasceu, do modo como eu quis fazer, seja blackpower ou batidinho atrás da nuca, raspado só de um lado, só a franja caindo laranja quase até a boca que me faz ter uma voz que se expande pra todo lado. Meu cabelo é de todo jeito, de todo peito, cabelo até no corpo, onde eu quiser que ele viva, ou não, pode sair na cera, na tesoura, pode ficar, deitar, restar, deixar. Meu cabelo pode ser o mundo todo, em sua cabeleira penteada ou descabelada, depende do dia, da tpm, do trabalho, do show, do namorado ou da namorada. Meu cabelo é só o meu cabelo, assim como o seu é o seu. Meu cabelo é o meu pelo. Pelo menos. Pelo mais. Pelo tudo. Pelo nada. Pelo caminho que ele quiser trilhar, o meu cabelo é só mais uma forma de eu – e de você – aceitar que este mundo só respira de verdade se nós respeitamos, em nossos cabelos, em nossas pessoas, em nossas vidas, as vastas maneiras de se estar.