O sonho existe fora de ti. E fora de ti também existe o mundo, as gentes e todos os mundos de todas as gentes, pois que cada gente é um mundo de sonhos em si mesmo e um outro fora de si.
O sonho existe fora de ti. Mas não precisava ser tão fora. Poderia ser dentro, se você o deixasse, se você lhe dissesse, entra, senta aqui, aceita um pingado, uma xícara de chá?
Sim, o sonho existe fora de ti. Cheio de sonhos. Ele vive. Ele explora. Ele te olha, acha que você é um sonho dele, se perde nos seus olhos abertos, se perde na sua vida, depois sai, te deixa, vê que você não sonha, anda acordado demais, ele parte, vai, vai, vai láááááááá… pra longe.
Sim, o sonho existe fora de ti. Inteiro. Verdadeiro. Aquela alma sonhadora. Entusiástica. Ânima pura. Ânimo puro. Ouro onírico. Diamante abstrato. Voo. Liberdade. Sonho.
O sonho existe fora de ti. Todo sonhador, à sua espera, quer ser peixe, morder sua isca, mas você não olha pro rio, não senta diante do mar, nunca parou na frente de um lago, nunca teve uma vara de pescar.
Sim, o sonho existe fora de ti. À espreita. Um caçador à espera de tornar-se a caça. A sua. Mas você não caça sonhos. Você adormeceu. Profundamente. Não acorda. Ele tenta. Te cutuca. Faz ruídos. Você acha que são buzinas da rua. Vira pro lado. Pro outro. O sonho bate à sua porta. Você descarta. Deve ser uma visita indesejada, finge que não está. O sonho cansa. Cabisbaixo parte. Passos lentos. Olha o tempo todo pra trás. Nada de você. Ele vai, vai, vai… Neblina. Some. Ninguém mais o vê. Nem você.
O sonho existe fora de ti.
Crédito da foto: Zoltan Tasi