Nossas mãos se tocaram naquele dia em que a noite custou a cair. Foi como se o tempo tivesse tirado uma pausa, parado para um café, de modo a nos olhar de longe os olhares cruzados, as mãos, uma sobre a outra, teu toque descobrindo o meu, nossa pele descobrindo a vida na vida de outra pele, de outro corpo, de outra alma. A luz de cada estrela nasce desses encontros. Como se o universo dependesse de sentimentos como esse para tirar a energia do seu giro. Esse, que não sabemos explicar como acontece, por que o brotar?, de onde? A única coisa que sabemos é que eles existem. Existem como as coisas mais tenras e intocáveis sabem-se cheias de sólida existência. Como os sorrisos… E ali, naquele momento em que o tempo perdeu-se de sua essência, de sua congruência, nos tornamos o encontro daquilo que nos fez faltar o ar, que nos deixou diante da experiência única do amar. Eu sentia minha mão sobre a sua e sorria. Você deitava sua mão junto à minha e dormia. Éramos agora a pausa do próprio tempo. A paisagem da contemplação que ele fazia de nós. Um instante infinito? Assim, talvez, alguém pudesse chamar nossos nomes. Mas ninguém nos chama, ou chamará, porque não estamos onde estamos quando juntos estamos. Nossos corpos, sim, em aparência, estão ali, tocáveis, presentes. Mas nossos espíritos, não. Nossas almas voam em outro lugar. Dançando uma música lenta, a dois, onde no centro estamos nós e, à nossa volta, o circundar abismado de toda a galáxia.
Crédito da foto: Clem Onojeghuo.