Quando o barulho na chaminé invadiu a sala, todos ficaram perplexos. Era ele! Ele havia acabado de chegar. E foi descendo, arfante, com suas botas pretas, agora sujas de cinzas, sua roupa vermelha, sua barriga grande e sua barba longa e branca como um tapete de neve. Ninguém acreditava que ele havia mesmo chegado. E, claro, chegou com seu saco gigante, cheio de presentes. Olhou praqueles olhos assustados e disse: Calma, crianças, eu sou apenas o Papai Noel. Ninguém falava. Mudos, todos se entreolhavam. Seria ele mesmo? Quem estaria fantasiado? Não faltava ninguém na festa, então, quem estaria dentro daquela roupa? E quem se meteria numa chaminé pra dar veracidade àquela data? Quando o Papai Noel se acomodou na poltrona, todos fizeram um grande círculo. A pergunta era: Por que ele estaria ali, naquela casa de tantos adultos e de nenhuma criança? Mas o Papai Noel era um senhor experiente. E conhecia cada um daqueles rostos desde a infância. Um a um, chamou-os pelo nome. Felipe, Roberto, Cláudia, Marina, Mário, Cristina, Tamara, Mauro. Ainda incrédulos, começaram a desembrulhar aquelas lembranças. E não é que o velhinho acertou em cheio?! Ao desembrulhar seu presente, Felipe não acreditou. Ali, por trás daquele embrulho, estava uma memória esquecida: a primeira vez que seu pai o colocou no colo. Roberto, tão curioso, rasgou o papel com voracidade pra ver a lembrança de seu cachorro de infância, o Timão, lamber-lhe a cara. Cláudia pôde lembrar-se da noite em que sua mãe lhe contou, pela primeira vez, a história da Cinderela. Marina sentiu na boca o gosto do feijão de sua avó, por sinal, o mais gostoso do mundo. Mário reviveu a lembrança de seu pai lhe ensinando a andar de bicicleta. Cristina, a peralta, teve seu machucado de joelho bem cuidado com algodão e água morna pelo longamente falecido vovô Abreu. Tamara sentiu seu primeiro beijo. E Mauro viu quando Roberto, seu irmão mais velho, o defendeu de uns meninos que implicavam com ele na escola. É, aquele velhinho era mesmo sábio. Com apenas um presente, deu àquelas esquecidas crianças um carinho que elas nem lembravam que tinham… É, aquele velhinho era mesmo sábio. Sabia como desembrulhar o afeto do coração daqueles presentes cheios de memórias.