O que eu queria com as palavras era preencher a escuridão de um espaço. Íntimo. E encher de estrelas o branco de um vazio. Ver o mundo que não há no mundo. Ter nas palavras outros universos e, na poesia da vida invivida, buscar as galáxias perdidas do verso. Eu queria ver o mundo como se ele fosse todo, ou pelo menos quase. Queria poder alcançá-lo, em todas as suas possibilidades. Escurecerei tentando…
Descobriram uma nova espécie de porco-espinho na mata. Isso é um fato real. Ele é amarelo-limão com espinhos pretos de pontas vermelhas. Até quase ontem, o bichinho se manteve escondido. Ninguém sabia dele, então ele ainda não existia. Aquela cor de canetinha marca-texto, como se tivesse sido desenhado por uma criança, ou tivesse acabado de sair de um desenho animado. Pensei: como é que nunca nessa vida alguém pensou em um porco-espinho amarelo-limão com espinhos pretos de pontas vermelhas? Mas a natureza pensou… Assim, eu leio outros autores para descobrir novos porcos-espinhos. Porque só cada um vê o que cada um vê no espaço escuro da mata. E aí eles me mostram as suas vistas. E com eles eu vejo a escuridão espacial de minha vida iluminar-se em singelas fagulhas. E entendo que pequenas faíscas brilham mais que estrelas. Nas palavras dos distantes, há muitos sóis escondidos. Nelas, eu abro novas trilhas no bosque, como o porco-espinho amarelo-limão abriu uma nova trilha no caminho de uma espécie. E o bosque do meu espaço fica todo estrelado. Cheio de estrelas como o porco-espinho amarelo-limão. Que nasceu porque alguém, pela primeira vez, procurou ver brilhar…