Disse que me amava, mas não confiava em mim. Morria de ciúme. Tinha ciúme de ex, de pai, de mãe, de melhor amigo, de amiga, de colega de escritório, da minha sombra, ciúme. Tinha ciúme até de minhas memórias, de minhas músicas, de minhas novelas, de meus seriados, de meus livros e recordações anotadas em folhas de agenda passada de adolescente. E o ciúme crescia. Era um buraco negro puxando tudo à nossa volta, inclusive a nossa vontade de felicidade. E todos os dias eu acordava com um ovo a mais pisado pelo chão. E olha que eu era cuidadosa… Depois do primeiro ano, quase tive de aprender a voar, pra não esmagar as claras e gemas da relação. Mas como se sai do chão com tanto peso? Infelizmente, não aprendi. Não tinha asas. Nem era cientista maluco construtor de mochilas com foguetes. Daí, fiz o que podia. Permaneci pisando aquele chão de ovos. Até que aquela coisa toda começou a apodrecer. E o cheiro foi ficando insuportável. Tão insuportável que não tive outra saída: saí pela porta andando mesmo e, claro, quebrando os últimos ovos no chão da relação.